quarta-feira, 26 de setembro de 2012

  • O segundo paragrafo do texto que me precede ,e que conta uma passagem anedótica da vida de  William Blake ,serviria muito bem de ensejo para o que irei a escrever a seguir ,mas é apenas uma coincidencia.
  1. PALAVRAS VALEM A PENA
    ...



    Há alguns anos atrás trabalhei na região dos jardins num momento em que as coisas não andavam nada bem. Não sei por que cargas d’gua decidi subir diariamente a pé e de mochila nas costas a Rua Casa Blanca ,aquela que começa na Av. Paulista, foi nesse diário trajeto que dei ciência da minha loucura, pois, admirado descobri a sinuosa beleza das arvores, a imperiosa majestade com que se prendem no solo ao modo de garras de velho condor,enfileiradas fazendo sombra, ou melhor, tirando o brilho ao luxo dos prédios , era como falar com deus; nesse matutino trajeto fiquei convencido que diariamente elas(as arvores) me esperavam com os braços abertos a me mostrar cada fenda, seus olhos o seu córtex cortado e a lacrimosa de seus caules.A coisa foi ficando pior pois passei a pesquisar às arvores, as suas categorias, origem, morfologia e classes até o formato de suas folhas sua geografia,pois sequer eu sabia com quem estava falando, se eram pinhos ou carvalhos,Nogueiras ,seringueiras,cajueiros,mamoeiros,jequitibás, mangueiras,seringueiras ou o abacateiro do Gil, em fim, arvores mil.

    Terceiros olhos aparte, esta minha urbana experiência desceu diretamente na aula que apresentou a nos William Wordswoth e seus Narcisos (mais de mil) me culpei um pouco por haver relacionado num primeiro momento o titulo do poema ao personagem da mitologia grega e seu significado.

    Desde os primeiros semestres desta nossa acadêmica caminhada, às vezes nem tão acadêmica, verificamos de forma cartesiana que os acontecimentos sócias são os grandes produtores das diversas narrativas e a mudança de suas características estéticas ao longo da história, e no nosso caso da historia de ocidente. A gente tem falado da singular percepção do poeta e sua extraordinária espiritualidade depois compartilhada com nos. Como épocas tão difíceis e tumultuadas podem provocar reações tão sublimes como este poema? Wordsworth, grosseiramente traduzido para o português quer dizer: Palavras valem ou a palavra vale a pena.


    Ainda dentro deste contexto Vale a pena citar a Tagore:

    "A terra, insultada, vinga-se dando-se flores".





    'SOLITÁRIO QUAL NUVEM VAGUEI'

    Solitário qual nuvem vaguei
    Pairando sobre vales e prados,
    De repente a multidão avistei
    Miríade de narcisos dourados;
    Junto ao lago, e árvores em movimento,
    Tremulando e dançando sob o vento.

    Contínua qual estrelas brilhando
    Na Via Láctea em eterno cintilar,
    A fila infinita ia se alongando
    Pelas margens da baía a rondar:
    Dez mil eu vislumbrei num só olhar
    Balançando as cabeças a dançar.

    As ondas também dançavam neste instante
    Mas nelas via-se maior a alegria;
    Um poeta só podia estar exultante
    Frente a tão jubilosa companhia:
    Olhei – e olhei – mas pouco sabia
    Da riqueza que tal cena me trazia.

    pois quando me deito num torpor,
    Estado de vaga suspensão,
    Eles refulgem em meu olho interior
    Que é para a solitude uma bênção;
    Então meu coração começa a se alegrar,
    E com os narcisos põe-se a bailar


    William Wordsworth
    in 'O olho Imóvel Pela Força da Harmonia'
    Tradução de Alberto Marsicano.



    ernesto caceres

7 comentários:

  1. Pretensão dos poetas românticos dizer que apenas eles tinham seus momentos de epifania...não é verdade Ernesto? Hehe, e o interessante é que nosso caro colega deixa claro tratar-se de uma loucura! "foi nesse diário trajeto que dei ciência da minha loucura". Mas o que seria a loucura, diante do absurdo do mundo? Bobagem! Momentos assim acontecem com todos, independente do lugar ou hora. Acontece que exitem pessoas que aprenderam escrever! como é o caso de Blake e do Ernesto. Loucura maior é pensar que na faculdade onde estamos a quase três anos, não conhecemos noventa e nove por cento das pessoas que por lá passam; ou tentar imaginar como em um Pen drive caibam músicas, filmes, livros...e a internet?! Me lembrei agora da minha mulher me chamando de "da roça" apenas porque fiquei deslumbrado quando vi a funcionalidade de um GPS.
    Quer saber..parabéns pelo texto Ernesto!

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  2. O comentário acima é meu (Antoniel), apenas não consegui inserir meu nome rsrsrsrsr!

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  3. Ah! Que bom, Antoniel! Estava muito curiosa em saber quem era anônimo!
    Abs
    Cielo

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  4. Poderia começar falando do poema, com suas "figuras de linguagem" ou ainda analisar a "versifcação", a "métrica" ou qualquer outra análise, mas não, após ter lido o poema e o texto de nosso colega não consegui precisar se a beleza maior está na poesia de William ou na inferência profunda, que Ernesto fez de forma brilhante e extremamente contagiante. Sua perspectiva mostra uma outra maneira de se analisar um poema romântico, você foi "transfrástico" Ernesto. Parábéns!

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  5. Pessoal, muito obrigado pelos comentários tão generosos,fiquei sinceramente emocionado.
    ernesto.

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  6. Achei muito interessante seu texto Ernesto e o paralelo que você fez com o poema de W. Wordsworth. Enquanto o poeta inglês tenta ultrapassar a percepção para além do normal, você, Ernesto, reparou em algo que poucas pessoas na correria dessa cidade reparam...

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  7. Observando a forma como nosso amigo Ernesto e Wordsworth escrevem, podemos retomar as aulas de literatura, observando os aspectos que fazem referencia ao autor, que através do seu olhar diferenciado sobre as coisas chegam ao apice da inspiração e transcendem, dessa forma ambos descrevem o que vem do mais profundo de sua alma. Parabéns Ernesto!
    (Rafael Olivera)

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